Segundo o padre Roque Patussi, do Cami (Centro de Apoio ao Migrante), que acompanhou a situação, os jovens bolivianos são maiores de idade e foram aliciados ainda na Bolívia com a promessa de que receberiam US$ 500 mensais (em torno de R$ 1.200) cada um para trabalhar numa confecção.
Quando chegaram ao local do trabalho, no centro de São Paulo, eles foram informados que o salário seria menor.
Diante da recusa em aceitar trabalhar, eles entraram em desacordo com o suspeito. Isso teria motivado a tentativa de venda deles.
O consulado da Bolívia no Brasil informou que vai custear o retorno das duas vítimas ao país de origem.
A Polícia Militar foi acionada e, chegando lá, segundo testemunhas, revistou as vítimas como se elas fossem suspeitas. Na confusão, o homem que tentava vender os dois jovens fugiu.
Questionada ontem, a PM não comentou a maneira como atendeu à ocorrência.
A comerciante Maria Gutierrez, 40, afirmou que o suspeito pagou para os jovens viajarem ao Brasil.
"Um homem que passava pela rua não aceitou a proposta para comprar os garotos, mas propôs levar os meninos para trabalhar. Assim, eles mesmos pagariam a dívida, mas não houve acordo", disse Gutierrez.
A cena revoltou as pessoas que estavam na feira, muito frequentada por imigrantes sul-americanos.
Os dois jovens acabaram levados pela polícia ao 8° Distrito Policial (Brás). Eles não registraram queixa na delegacia por medo de a denúncia comprometer a vida de suas famílias na Bolívia.
A Polícia Civil se limitou a dizer que não houve registro de boletim de ocorrência e que o delegado titular, Antonio Tadeu Rossi Cunha, não foi notificado "sobre qualquer representação exigindo a investigação" do caso.
O Ministério Público do Trabalho de São Paulo afirmou que abriu um inquérito para apurar a denúncia.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a procuradora Cristiane Vieira Nogueira, responsável por investigar casos de trabalho escravo na capital, informou que esta é a primeira ocorrência de tentativa de venda de um trabalhador registrada pelo órgão.